dezembro 29, 2011

bem-vindos ao novatrova!

nova trova é o blogue de poesia de andré damázio,
poeta paulista que apresenta seus poemas reunidos em
momentos autorais,
os quais representam eus poéticos
personalidades diversas
transpessoais
bipolares

maio 12, 2011

camoniana amizade

Todos se lembram 
do amor-fogo que arde sem ver 
e do amor-ferida que dói e não se sente 
daquele soneto de Camões 
tornado Monte Castelo 
no cancioneiro urbano recente 
pela caligrafia musical do poeta 
De muitas, muitas legiões

Faltou-lhe, certamente, 
Mostrar por inteiro do poema 
a sua chave de ouro,
Que abre, diante de quem 
silenciosamente a observa, 
uma camoniana verdade...

Ora, 
“Se tão contrário a si é o mesmo Amor, 
Como pode causar seu favor 
nos corações humanos Amizade?

camoniana amizade

Todos se lembram 
do amor-fogo que arde sem ver 
e do amor-ferida que dói e não se sente 
daquele soneto de Camões 
tornado Monte Castelo 
no cancioneiro urbano recente 
pela caligrafia musical do poeta 
De muitas, muitas legiões

Faltou-lhe, certamente, 
Mostrar por inteiro do poema 
a sua chave de ouro,
Que abre, diante de quem 
silenciosamente a observa, 
uma camoniana verdade...

Ora, 
“Se tão contrário a si é o mesmo Amor, 
Como pode causar seu favor 
nos corações humanos Amizade?

fevereiro 08, 2011

eu vou matar Caetano


Não sei se no começo ou no final do ano
De susto, bala, vício, dor ou desengano
Talvez de prazer eu ainda estou pensando
Sei que esse dia chega
Sei que esse dia vem:
Eu vou matar Caetano

Eu sou mais do que um eu, mais do que um ser humano,
Meio policial, meio miliciano,
E gira a roda da vida, pela mão da morte girando,
não vai sobrar ninguém:
ai de você, meu bem –
fulano, beltrano ou caetano...

Um café,
uma transa,
um debate,
uma palestra para universitários,
uma mesa redonda na FLIP,
uma pizza para celebrar
remessas de dólares via underwear
um turbilhão revolucionário de ideias oscilantes
entre um neossurrealismo sul-americano e um neoconcretismo alemão,
a evangelização ambulante nas ruas e praças centrais
de qualquer grande ou pequena cidade do globo,
o neopentecostalista fenômeno
que se espalha por onde quer que haja pobreza, 
numa ruazinha amontoada de lojas no centro de Ciudad del Este
ou numa praça qualquer de Luanda
patrocinada pelos diamantes mortíferos do interior de Angola.


Rebanho profano de mesmíssimas divinas tetas,
netas daquele profana vaca nesses tempos de exportação bovina
e algum equilíbrio da balança comercial:
tons jobinescos que se exportam
via o Rio de Janeiro irreconhecível das fabulescas novelas das oito,
bossa nova-boa nova da indústria fonográfica
que perece na memória dos MP3 players...

O Haiti é aqui...


De quem o destino é ser star
não há estrela que haja hora
e nem  lispecta senhora
a esclaricer a nova ordem:
o twitter é a Rádio Relógio das macabeas pós-modernas atuais

O Havaí é aqui.
Entre palafitas e favelas,
Somos surfistas,
Temos festival de esportes radicais
na cidade em que o mais radical esporte
é ir de casa para o trabalho,
em trens lotados,
e,
ai!,
delícia suburbana –
Sampa, Belzonte, Rio ou cidade de São Salvador – 
ter a bunda apalpada pela mão dalgum marmanjo
- Calor que provoca arrepio...


Qualquer que seja o princípio,
qualquer o meio,
qualquer o mecanismo de busca,
qualquer o freio,
qualquer a classe social,
qualquer a crise que se instale,
ou a CPI que se instaure,
qualquer o barco que afunde,
qualquer o banco que abunde,
qualquer a vida que vá,
qualquer o cemitério do enterro,
qualquer o corpo no féretro,
qualquer a mãe que lamente,
qualquer o calibre do tiro,
qualquer o tamanho do rombo,
qualquer o montante do roubo,
qualquer a vida que se leva,
qualquer morte a que nos leve,
qualquer o deus a que se sirva,
qualquer o pastor  com quem se meta,
qualquer o padre que meta,
qualquer o versículo sagrado
ou o verso consagrado,
qualquer que seja o problema,
qualquer,
talvez,
o dilema,
qualquer o mês, dia ou ano,
qualquer que seja o poema
qualquer o burguês sobre-humano
por cima da pena
por baixo do pano


Qualquer seja o presidente,
comum-de-dois-gêneros 
ou biforme na molusca presidenta,
Qualquer seja no acarajé a pimenta,
Qualquer a cerveja no copo,
Ou uma lula num prato para lá de Teerã,
Correndo atrás do trio elétrico
Como quem porta uma Arma
Ahmadinejad...
           
            É engraçado quando se encontra alguém pela rua
            que te para e diz:
            - Caetano! Canta aquela, vai...
            Ah! Canta! Aquela...
            E aí quando se vai cantar chega um cidadão
            E diz:
            - Ué?! Mas você não tinha morrido?
            E quando se pensa em responder,
            Um garotinho te interrompe e diz:
            - Eu gosto de você, tio... Você disse que a Tiazinha bem, eu lembro,
              e você é o namorado da Gadú

Eu sou mais do que um eu, mais do que um ser humano,
Meio policial, meio miliciano,
E gira a roda da vida, pela mão da morte girando,
não vai sobrar ninguém:
morre você também:
fulano, beltrano ou caetano...

            Não sei se no começo ou no final do ano
De susto, bala, vício, dor ou desengano
Talvez de prazer eu ainda estou pensando
Sei que esse dia chega
Sei que esse dia vem:
Eu vou matar Caetano

dezembro 16, 2010

papel da poesia

esses dias sem dinheiro
lendo versos no banheiro
pensei "meu Deus, mas que dureza!"
e me surge Camões, em resposta,
e, a despeito do cheiro da bosta,
recita-me com a mesma clareza
do amigo que agora a mim lê:
É "que há dias que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como e dói não sei porquê..."



novembro 25, 2010

dura sina

um garoto de cinco anos,
passeando com seu pai pelo parque,
jogou o pote do iogurte que acabara de beber no chão

o pai apanhou, acanhado, o lixo do filho do caminho,
e explicou-lhe que devia tê-lo jogado na lixeira,
localizada mais adiante

ali perto, o dono aflito de um labrador,
cobrando ao filhote os truques que, durante a semana,
aprende com seu treinador.

pedia-lhe que sentasse, e o via pular sobre si...
comandava-lhe que cumprimentasse,
e via-o roubar-lhe o pacote de biscoitos,
saindo em disparada...

ambos
- o jovem pai e o trintão-solteiro-sem-filhos -
frustavam-se em suas tentativas:
o menino atirava o lixo longe, contrariado,
enquanto o cãozinho corria do melhor amigo
em direção a um bando de patos
reunidos numa pedra bem no meio do lago

felizes os proprietários de cães:
quando seu cão não aprende aquilo que o ensinam,
a culpa é do próprio cão;
quando um filho não aprende aquilo
que seu pai o ensina
dura sina...
a culpa é do próprio pai!


outubro 22, 2010

já volto

fui descarregar minha raiva
no fundo bem fundo do rio:
- dentro d'água não existe boca suja...

outubro 09, 2010

Poema retilíneo

A Luiz Mott e Pedro Mariante

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Álvaro de Campos



passas
a infância achando que é pecado
crendo-se errado na adolescência
a fase adulta, sendo julgado
ora susto, ora descoberta
o medo de uma multidirecional violência
ora afago, ora esculacho
a mão esquerda no seu desejo
e uma direita que te picha
escolha errada? escolha certa?
olhos que reviram de gozo
já fogem no seguinte lampejo

porque até pra ser bicha,
além de jovem, culto, bonito
financeiramente independente,
ativo, sem vícios, malhado,
o cara tem que ser macho!

seja militante das ruas -
guarda-roupa ou traveco
seja habitante do armário -
emo, jogador de futebol ou padreco
qual seja o pente que te penteia
qual seja a cena em que apareces
qual seja o apetite que te ceia
sejas do tipo que até o último momento nega,
ou daqueles que o menor “e aí?!” já te entrega,
esquece-te de teu futuro,
esquece-te de teu passado
porque nem Foucault explica, colega:

- chegará um dia cinco
em que, ao dividir com alguém as contas de água e luz
(e independentemente do que defina o Congresso, 
  da velha bancada do pensamento atrasado
  do que opine o Senado)
 (e independentemente de que haja ou não loteamentos gays no céu
   e de que talibanescas construtoras neopentecostais te cacem em nome de Jesus)


Pelos laços concretos das contas do mês,
dos humores que variam com a lua,
e dos rumores que variam de rua em rua
Estarás casado!

outubro 06, 2010

...dos olhos da ex-amada

A winter afternoon around Avenida Paulista. August, 2010 
agora tu me olhas
com os olhos que te via
quando te quis um dia
com os olhos que te via
as tuas faces molhas
quando noutra estadia
já repousam os meus
agora que me olhas
chora por nós, adeus

dezembro 26, 2009

quandos


dor de cabeça
beijo na boca
temporal
gastos com gasolina
não se sabe quando começa
.....................quando termina

desconfiança
água parada
conjuntivite
e ciumeira
de menina
não se sabe quando começa
.....................quando termina

espinha na testa
depressão
tesão de mijo
e a terceira guerra que -como está-
já se aproxima
não se sabe quando começa
.....................quando termina