fevereiro 08, 2011

eu vou matar Caetano


Não sei se no começo ou no final do ano
De susto, bala, vício, dor ou desengano
Talvez de prazer eu ainda estou pensando
Sei que esse dia chega
Sei que esse dia vem:
Eu vou matar Caetano

Eu sou mais do que um eu, mais do que um ser humano,
Meio policial, meio miliciano,
E gira a roda da vida, pela mão da morte girando,
não vai sobrar ninguém:
ai de você, meu bem –
fulano, beltrano ou caetano...

Um café,
uma transa,
um debate,
uma palestra para universitários,
uma mesa redonda na FLIP,
uma pizza para celebrar
remessas de dólares via underwear
um turbilhão revolucionário de ideias oscilantes
entre um neossurrealismo sul-americano e um neoconcretismo alemão,
a evangelização ambulante nas ruas e praças centrais
de qualquer grande ou pequena cidade do globo,
o neopentecostalista fenômeno
que se espalha por onde quer que haja pobreza, 
numa ruazinha amontoada de lojas no centro de Ciudad del Este
ou numa praça qualquer de Luanda
patrocinada pelos diamantes mortíferos do interior de Angola.


Rebanho profano de mesmíssimas divinas tetas,
netas daquele profana vaca nesses tempos de exportação bovina
e algum equilíbrio da balança comercial:
tons jobinescos que se exportam
via o Rio de Janeiro irreconhecível das fabulescas novelas das oito,
bossa nova-boa nova da indústria fonográfica
que perece na memória dos MP3 players...

O Haiti é aqui...


De quem o destino é ser star
não há estrela que haja hora
e nem  lispecta senhora
a esclaricer a nova ordem:
o twitter é a Rádio Relógio das macabeas pós-modernas atuais

O Havaí é aqui.
Entre palafitas e favelas,
Somos surfistas,
Temos festival de esportes radicais
na cidade em que o mais radical esporte
é ir de casa para o trabalho,
em trens lotados,
e,
ai!,
delícia suburbana –
Sampa, Belzonte, Rio ou cidade de São Salvador – 
ter a bunda apalpada pela mão dalgum marmanjo
- Calor que provoca arrepio...


Qualquer que seja o princípio,
qualquer o meio,
qualquer o mecanismo de busca,
qualquer o freio,
qualquer a classe social,
qualquer a crise que se instale,
ou a CPI que se instaure,
qualquer o barco que afunde,
qualquer o banco que abunde,
qualquer a vida que vá,
qualquer o cemitério do enterro,
qualquer o corpo no féretro,
qualquer a mãe que lamente,
qualquer o calibre do tiro,
qualquer o tamanho do rombo,
qualquer o montante do roubo,
qualquer a vida que se leva,
qualquer morte a que nos leve,
qualquer o deus a que se sirva,
qualquer o pastor  com quem se meta,
qualquer o padre que meta,
qualquer o versículo sagrado
ou o verso consagrado,
qualquer que seja o problema,
qualquer,
talvez,
o dilema,
qualquer o mês, dia ou ano,
qualquer que seja o poema
qualquer o burguês sobre-humano
por cima da pena
por baixo do pano


Qualquer seja o presidente,
comum-de-dois-gêneros 
ou biforme na molusca presidenta,
Qualquer seja no acarajé a pimenta,
Qualquer a cerveja no copo,
Ou uma lula num prato para lá de Teerã,
Correndo atrás do trio elétrico
Como quem porta uma Arma
Ahmadinejad...
           
            É engraçado quando se encontra alguém pela rua
            que te para e diz:
            - Caetano! Canta aquela, vai...
            Ah! Canta! Aquela...
            E aí quando se vai cantar chega um cidadão
            E diz:
            - Ué?! Mas você não tinha morrido?
            E quando se pensa em responder,
            Um garotinho te interrompe e diz:
            - Eu gosto de você, tio... Você disse que a Tiazinha bem, eu lembro,
              e você é o namorado da Gadú

Eu sou mais do que um eu, mais do que um ser humano,
Meio policial, meio miliciano,
E gira a roda da vida, pela mão da morte girando,
não vai sobrar ninguém:
morre você também:
fulano, beltrano ou caetano...

            Não sei se no começo ou no final do ano
De susto, bala, vício, dor ou desengano
Talvez de prazer eu ainda estou pensando
Sei que esse dia chega
Sei que esse dia vem:
Eu vou matar Caetano

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