outubro 09, 2010

Poema retilíneo

A Luiz Mott e Pedro Mariante

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Álvaro de Campos



passas
a infância achando que é pecado
crendo-se errado na adolescência
a fase adulta, sendo julgado
ora susto, ora descoberta
o medo de uma multidirecional violência
ora afago, ora esculacho
a mão esquerda no seu desejo
e uma direita que te picha
escolha errada? escolha certa?
olhos que reviram de gozo
já fogem no seguinte lampejo

porque até pra ser bicha,
além de jovem, culto, bonito
financeiramente independente,
ativo, sem vícios, malhado,
o cara tem que ser macho!

seja militante das ruas -
guarda-roupa ou traveco
seja habitante do armário -
emo, jogador de futebol ou padreco
qual seja o pente que te penteia
qual seja a cena em que apareces
qual seja o apetite que te ceia
sejas do tipo que até o último momento nega,
ou daqueles que o menor “e aí?!” já te entrega,
esquece-te de teu futuro,
esquece-te de teu passado
porque nem Foucault explica, colega:

- chegará um dia cinco
em que, ao dividir com alguém as contas de água e luz
(e independentemente do que defina o Congresso, 
  da velha bancada do pensamento atrasado
  do que opine o Senado)
 (e independentemente de que haja ou não loteamentos gays no céu
   e de que talibanescas construtoras neopentecostais te cacem em nome de Jesus)


Pelos laços concretos das contas do mês,
dos humores que variam com a lua,
e dos rumores que variam de rua em rua
Estarás casado!

Um comentário:

Anônimo disse...

Simples assim... Obrigado!

Prometo que depois discorro mais.

Jairo Leme